Pré-sal em Xeque: Por que o Brasil precisa importar petróleo?
A descoberta das megas reservas do pré-sal transformou o Brasil em uma potência petrolífera. Com um volume de extração que beira os 2,6 milhões de barris por dia, poderíamos, em tese, ser autossuficientes e abastecer todo o mercado interno.
No entanto, a realidade é mais complexa. Nosso país ainda depende da importação de petróleo e derivados. Isso não se deve à falta de volume, mas sim a uma combinação de fatores técnicos e econômicos que colocam a tão sonhada auto suficiência em xeque.
1. O Desafio Técnico: Petróleo Pesado e Caro
Nosso principal entrave é a qualidade do óleo extraído no Brasil, majoritariamente classificado como petróleo do tipo pesado.
- Dificuldade de Refino: O petróleo pesado é mais denso e possui mais impurezas, o que torna seu refino mais complexo e custoso.
- A Necessidade do Óleo Leve: Para tornar o refino viável em nossas refinarias, o Brasil precisa importar óleo leve. Isso porque esse óleo mais fino e de maior qualidade é misturado ao nosso petróleo bruto para “aliviá-lo” e facilitar a purificação.
- Pré-sal em xeque: A dinâmica cria um desequilíbrio econômico: o Brasil precisa comprar caro o óleo leve para refinar, entretanto vende barato o excedente de petróleo pesado que não consegue processar.
2. O Obstáculo Geográfico: O Preço do Transporte
As dimensões continentais de nosso país impõem um desafio logístico gigantesco. Pois o petróleo é extraído (principalmente no Sudeste), onde estão as grandes refinarias nem sempre é a região que mais consome.
- Vantagem da Importação Regional: Para estados mais distantes, como o Acre, o custo do transporte do Sudeste se torna proibitivo. Ou seja, economicamente, é muito mais vantajoso importar petróleo e derivados dos países vizinhos, como a Venezuela.
- Infraestrutura Deficiente: A infraestrutura de transportes do país (rodovias, ferrovias e portos) não é ideal, o que encarece o frete interno e agravando ainda mais a situação.
3. O Fator Concorrencial: A Perda de Mercado
Mesmo com investimentos destinados a modernizar as refinarias e diminuir a dependência do óleo leve, a Petrobrás, gigante nacional, enfrenta uma concorrência acirrada:
- Aumento da Importação de Derivados: A importação de derivados prontos, como gasolina e diesel, por outras empresas privadas tem aumentado.
- Competitividade Internacional: Empresas estrangeiras, que possuem custos de refino mais baixos ou acessam petróleo mais leve, conseguem praticar preços mais competitivos em nosso mercado, “roubando” a fatia que a Petrobrás historicamente dominava.
O Papel da Qualidade e Análise
É importante destacar que todo o material importado por nós, seja petróleo bruto (óleo leve para refino) ou derivados prontos (gasolina e diesel), precisa ser rigorosamente avaliado por laboratórios. Pois são análises são cruciais para garantir que os produtos atendam aos parâmetros de qualidade e segurança pré-estabelecidos pela nossa legislação.
Em resumo, a nossa auto suficiência em petróleo é, hoje, a questão que temos de volume, e a que nos falta, de viabilidade técnica e econômica. Refinar o petróleo pesado e transportá-lo para todo o país é, no momento, caro demais para ser totalmente competitivo.
Com o texto, os dilemas técnicos e financeiros que freiam nossa independência energética foram melhor esclarecidos?
